segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Técnicas construtivas: taipa e adobe



ARQUITETURA
1. Técnica da taipa ou pau-a-pique
A técnica da taipa de mão, também conhecida como pau-a-pique, barro armado, taipa de sopapo ou taipa de sebe, consiste em armar uma estrutura de ripas de madeira ou bambu com uma mistura de barro. É uma técnica simples de construção, muitas vezes tratada com preconceito pela aparência rústica. No Brasil, foi trazida pelos portugueses e, desde então, é muito utilizada no meio rural, no sertão central e nordestino.




2. Técnica do adobe


Técnica de construção comum no mundo todo, que utiliza o barro com pequena quantidade de areia como matéria prima. O barro deve ser bem sovado e moldado em formas de madeira, sofre o processo de secagem a sombra, e não recebe queima. As construções antigas sempre tinham a presença do Adobe, e ainda hoje nos países Árabes é muito utilizada. No Brasil, em várias regiões no centro e no norte do pais, ainda hoje utilizam esta técnica.

IMAGENS DE FRANS POST
ESQUEMAS CONSTRUTIVOS NA AMERICA PORTUGUESA
1. Nas vilas o esquema construtivo era alterado em vista das necessidades da urbanização, com um modelo de casas construídas lado a lado, sem espaço intermédio, ficando um terreno livre apenas nos fundos, e sendo preferida a cobertura com telhas de barro.
Com o progresso da colonização e o estabelecimento de uma estrutura urbana básica, passou a ser utilizado também o adobe para construção, por ser mais resistente e permitir o avanço de edifícios maiores com estrutura de madeira, como conventos, colégios e igrejas mais amplas, e a cantaria, da qual um dos primeiros exemplares é a Casa-Forte de Garcia d'Ávila em Pernambuco, erguida já em 1551. No interior do país começavam a se formar grandes latifúndios, que passaram a contar com casas senhoriais amplas, com até dois pavimentos e estrutura de madeira e adobe, ou de pau-a-pique, coberta de telhas, embora sua fachada continuasse a apresentar linhas simples. A inovação foi a introdução da varanda à frente da fachada, uma área coberta livre de paredes.

2. CASA DO BANDEIRANTE
Imagens de arquitetura civil
Características
- plataforma sobre a qual se assenta a casa
- planta quadrangular
- paredes de taipa e pilão
- telhados de quatro águas
- fachada constituída pela varanda.
- disposição dos quartos à volta da sala central.

Foi feita de taipa de pilão: técnica construtiva milenar que emprega nas paredes e muros a terra comprimida dentro de formas de madeira. Porém, essa técnica mostrou-se pouco resistente à umidade, o que a faz necessitar de manutenção constante. Queixa-se o governador Mourão em 1767, com certo exagero: "suposto seja esse o uso do país, é tão pouco seguro que basta o descuido de uma telha quebrada para que no espaço de uma noite venha tudo abaixo…".

Segundo o arquiteto Carlos Lemos, a taipa de pilão é própria dos lugares pobres, "pobres", explica ele, "não só economicamente, mas também carentes de materiais de construção como a cal, a pedra, o tijolo e carentes de técnicas apropriadas à madeira vista como elemento estrutural". A Vila de São Paulo, portanto, carecia não só de recursos econômicos como também de materiais construtivos.

Como aponta Carlos Lemos, a arquitetura da casa bandeirista permanece uma incógnita. Certa mesma é a destinação dos cômodos fronteiros, que abrigavam um "quarto de hóspedes" e uma capela. Quanto aos demais cômodos, não se sabe ao certo a que tipo de uso eram destinados.

O mobiliário de casas como esta era geralmente escasso e pobre: redes de dormir, bancos, poucas cadeiras, e catres, mesas e baús de madeira. Além disso, a iluminação era precária, feita apenas com lampiões de latão de óleo de mamona e cera.


Características das construções coloniais
A análise das construções antigas sobreviventes, incluindo urbanas, permitiu sua caracterização com base em elementos comuns, consideradas primitivos:

1. Paredes mestras de taipa-de-pilão, especialmente na edificações mais antigas, com alicerce na mesma técnica ou, mais raramente, de alvenaria de pedras.

2. Beiral largo (0,60 m a 1,00 m) amparado por cachorros (com discreto entalhe na extremidade ou lisos). O sistema de ancoragem dos cachorros nos caibros era muito variável, não havendo identidade nesse particular entre quaisquer construções sobreviventes (Paiva, 1996:17). Geralmente uma peça independente (a âncora) unia a extremidade interna do cachorro à retranca apoiada sob o caibro. Outro sistema, mais primitivo, fazia os cachorros passarem por orifícios justos escavados no próprio frechal, o que dispensava mais ancoragem. O forro de tábuas (guarda-pó) era disposto entre os cachorros e as telhas.

3. Planta-baixa retangular, fechada.

4. Telhado de quatro águas, rigorosamente desprovido de rincões, armado por terças que suportavam caibros com sambladura basal no frechal interno (ou apoiados sobre este, sendo cortados sobre a parede), sem o uso de tesouras; a terça da cumeeira apoiava-se por esteios sobre frechais de paredes mestras. O ripado era de fasquias de estipes de juçara. A madeira era desdobrada com machado, posteriormente com traçadores, sendo tardio o emprego de serras d’água. O acabamento era feito com enxó.

5. Vergas retas ou, mais raramente, em arco abatido; vergas, ombreiras e peitoris lisos, sem entalhes, de madeira.

6. Janelas parcas e com frequência providas (se no térreo) de grades de balaústres verticais de seção quadrada e dispostos com as quinas voltadas para fora, denominados “balaústres coloniais” (Paiva, 1996:14). Escuros como única vedação, basculando por gonzos. O número de janelas por aposento aumentou consistentemente com o tempo, chegando ao máximo já no primeiro quartel dos oitocentos (Casarão do Pau Preto, Indaiatuba, Figura 2).
7. Implantação em plataforma aterrada, com a fachada principal voltada para o declive, nunca longe da água corrente. Os engenhos sempre se utilizaram de desníveis entre as diversas plantas de produção, mesmo em único edifício.

8. Piso de terra apiloada.

9. Casas eram levantadas sobre pilares ou esteios, usando-se o rés-do-chão como depósito.




Características das casas pintadas por Frans Post
- homogeneidade das casas
- andar térreo fechado em parte.
- andar de cima com varanda, com abertura no corpo da casa em vez de varanda.
- planta quadrada ou retangular.
- eventuais galpões de madeira.
- eventuais torres laterais (casas-fortes dos primeiros colonizadores)
- ausência de vidro nas janelas.
- telhados de quatro águas.
- casas principais cobertas com telhas.

Origem da casa brasileira representada por Post
- casas rurais portuguesas: províncias do Norte, como Minho, Trás-os-montes, Beira Alta e Beira Baixa.

Casa paulista
- assentam-se sobre um tabuleiro, com muros de sustentação de pedra.
- possuem apenas um andar, assente diretamente no chão.

Estilo chão: arquitetura


Igreja de Nossa Senhora da Graça de Olinda, uma das mais antigas do Brasil (finais do século XVI).

Fonte: wikipedia

São edifícios basilicais com duas torres sineiras, de nave única, capela mor profunda, naves laterais transformadas em capelas interligadas (pequenas portas de comunicação), interior sem decoração e exterior com portal janelas e muito simples. É um tipo de edifício muito prático, permitindo ser construído por todo o império com pequenas adaptações, e pronto a receber decoração quando se pensar ser conveniente ou existirem recursos económicos disponíveis. Teve grande sucesso porque permite transformar através da talha dourada, pintura, azulejo, etc. espaços áridos em aparatosos cenários decorativos. O mesmo se poderia aplicar aos exteriores. Permitem posteriormente aplicar decoração ou simplesmente construir o mesmo tipo de edifício adaptando a decoração ao gosto da época e do local. Prático e económico. Nasce da necessidade de desenvolver uma forma de arquitectura que seja possível construir por todo o império, desde Portugal até à Índia passando pelo Brasil, facilmente executável e económica. Para a compreender na sua totalidade é fundamental ter presente o seu carácter funcional e o espaço do império. Desenvolveu-se uma tipologia elegante permitindo o frágil equilíbrio entre a implantação portuguesa e os modelos decorativos locais. O resultado foi muito engenhoso, pois esta arquitectura manteve-se por mais de um século e como era muito prática, adaptando-se com facilidade através da decoração, condicionou o desenvolvimento do barroco nos territórios controlados por Portugal. Mal compreendida pala História da Arte, que deseja ver modelos italianos ou franceses, começou apenas nos anos 80 do século XX a ser compreendida pelo seu engenho e inteligência.

Os primeiros templos religiosos construídos no Brasil seguiam o estilo tardo-renascentista ou maneirista português, conhecido como estilo chão. Esta estética caracteriza-se pelas fachadas compostas por figuras geométricas básicas, frontões triangulares, janelas próximas ao quadrado e paredes marcadas pelo contraste entre a pedra e as superfícies brancas, de caráter bidimensional.[10] A decoração é escassa e circunscrita em geral aos portais, ainda que os interiores são ricos em altares, pinturas e azulejos.

Assim, as primeiras igrejas brasileiras tem nave e capela-mor de planta retangular, com uma ou três naves, janelas simples e uma fachada retangular ou quadrada encimada por um frontão triangular, podendo ter uma ou duas torres laterais. Ao longo do século XVII aparecem frontões adornados com volutas de caráter maneirista. Nessa primeira fase, os principais modelos das igrejas coloniais foram as igrejas de São Roque e São Vicente de Fora de Lisboa.


Igreja jesuíta de São Pedro da Aldeia, construída a partir de 1617.Hoje em dia restam poucos exemplos da arquitetura quinhentista no Brasil, uma vez que boa parte das edificações mais antigas foi ou destruída ou muito alterada. Exemplos raros de arquitetura religiosa quinhentista são a Igreja Matriz de São Cosme e São Damião de Igarassu (começada em 1535 e depois reformada) e a Igreja da Graça em Olinda, construída no último quartel do século XVI, com uma fachada maneirista inspirada na Igreja de São Roque de Lisboa. O arquiteto desta última, irmão Francisco Dias, havia trabalhado na construção da igreja lisboeta e projetou outras igrejas jesuítas no Brasil com arquitetura similar.[11][12]

Desde o século XVI, os jesuítas construíram igrejas e colégios em regiões isoladas para promover a conversão dos indígenas ao Cristianismo. Alguns exemplos importantes de igrejas jesuítas dos primeiros tempos da colonização são as de São Pedro d'Aldeia (RJ), Nova Almeida (ES), Embu (SP) e a Capela de São Miguel em São Miguel Paulista (SP), todas datando do século XVII ou início do XVIII.[13][14] Na metrópole de São Paulo, que surgiu ao redor de um aldeamento jesuíta, a fachada seiscentista da antiga igreja e colégio jesuíta (conhecido como Pátio do Colégio) foi reconstruída fielmente com base em iconografia antiga. A fachada mostra os traços seiscentistas do estilo chão inicial, inclusive com um frontão triangular. Em contraste, no Rio de Janeiro, a importante igreja jesuítica do Morro do Castelo, fundada em 1567, foi demolida em 1922 na reurbanização da área onde se localizava.[15] Semelhantes às de São Paulo e Rio foram a igreja e colégio jesuítas de Santos,[12] demolidos no século XIX mas bem conhecidos por plantas e desenhos.

Planta norte da cidade de Salvador, século XVII

Vilas portuguesas e vilas espanholas: diferenças.


Planta da cidade de Timgad, na Argélia, fundada por Trajano no ano 100

“ Porque o pregar tem mais de natureza que de arte: caia onde cair(...).O pregar
há de ser como quem semeia e não como quem ladrilha ou azuleja.” (Padre Antonio Vieira)

Sérgio Buarque de Holanda (O semeador e o ladrilhador)
- A colonização portuguesa seria distinta da espanhola devido à ausência de um projeto nacional de desenvolvimento da região. A colonização espanhola se define por uma insistência em assegurar o controle militar, político e econômico da metrópole sobre as terras conquistadas. Essa ênfase desenvolvimentista gerou inúmeros núcleos de povoação estáveis e bem ordenados, que se tornariam futuros centros urbanos das colônias. Para Sérgio Buarque o traçado das cidades representa um símbolo de vontade empreendedora. Era preciso vencer as adversidades climáticas, físicas e culturais, que só seriam controladas a partir de uma vontade criadora. A colonização portuguesa se caracterizou por uma feitorização. Até pela ausência de um projeto empreendedor de colonização, a administração portuguesa teria se caracterizado por um perfil mais liberal do que a administração espanhola.


2. CIDADE ESPANHOLA COMO CIDADE ROMANA
Cidade romana:
- A contribuição mais original para o traçado das cidades foi precisamente a que ficou devendo a sua origem aos acampamentos militares. Ainda, Benévolo afirma que "o romanos eram um povo eminentemente prático e organizador, que procurava as soluções simples e claras, sempre preferidas nos grandes empreendimentos coloniais. Faltava-lhes o refinamento artístico dos helenos, e eram mais engenheiros do que arquitetos." BENEVOLO (1993) relata que o sistema viário de Roma, chegou a possuir uma extensão de 85 quilômetros, sendo composto por ruas tortuosas, quase sempre estreitas ou estreitíssimas. Havia as itinera, acessíveis somente aos pedestres; as actus, onde passava apenas um carro de cada vez; as viae, onde dois carros podiam cruzar-se ou ultrapassar-se. Existiam apenas duas viae na parte central da cidade -- a Via Sacra e a Via Nova que flanqueavam o Foro -- e umas vinte na periferia (a Ápia, a Flamínia, a Ostiense, a Labicana, a Latina etc.).
- Exibir vídeo da cidade romana

Cidade espanhola
- Um tipo recorrente de intervenção, dentro deste período, é o das praças
retangulares formadas por uma seqüência de fachadas que repetem o mesmo motivo arquitetônico criando um espaço fechado e simétrico quando visto de qualquer de seus ângulos. As praças reais de Madrid ou Paris e as praças ducais de Vigevano ou Gualtieri são bons exemplos disto.
É esta cultura que irá se defrontar com o território do novo mundo. A cidade européia murada contraposta ao território rural envoltório não encontrará semelhança com nenhuma das ocupações no território americano então existentes, os grandes impérios asteca e inca tinham os seus centros monumentais construídos numa relação direta com a paisagem envoltória, sendo cidade e território pensados de uma maneira única. O traçado em damero das Leis das Índias que será adotado como regra em fins do século XVI na América Espanhola é fruto da racionalização natural a fundação de cidades, sejam as colônias romanas, sejam bastides ou cidades novas medievais, mas reflete também a assimilação da cultura visual renascentista já incorporada na mente dos conquistadores espanhóis. A novidade aqui, diante dos modelos de cidade ideal difundido na Europa está acima de tudo na escala que estas irão adquirir. Diante da grandiosidade da paisagem americana a cidade é proposta como modelo racional invariante e não delimitado, onde os módulos das quadras podem crescer em qualquer sentido. A grandeza geográfica do reticulado corresponde, no entanto, a ocupação feita de arquiteturas em escala modesta que remetem a dimensão do homem e de um controle visual afim a idéia das Strade Nuove européias, edifícios volumetricamente semelhantes gerando uma leitura estática do conjunto para quem o percorre.




Cidade portuguesa
- A idéia de sujeição do colonizador português ao território americano já estava presente no texto clássico no Brasil, de Sérgio Buarque de Hollanda, que afirmava ser a cidade da América Portuguesa parte do quadro da natureza, produto de uma cultura não consciente da própria manifestação de vontade e espírito. A irregularidade dos traçados seria fruto da permanência cultural medieval no mundo português, refratário a cidade regular renascentista, e que só seria gradativamente substituída pela cultura iluminista no século XVIII.
- Podemos identificar a implantação de três grandes redes urbanas na América Portuguesa de meados do século XVI até o final do século XVIII: a ocupação inicial do litoral, por vilas de iniciativa de donatários ou sesmeiros e cidades reais, fundadas principalmente nos séculos XVI e XVII, e caracterizadas pela dualidade cidade alta/cidade baixa e pela irregularidade ou regularidade relativa de seus traçados; a ocupação do sertão a partir da descoberta das jazidas de ouro e pedras preciosas, atividade fundamentalmente urbana que espalhou uma rede de arraiais e vilas nas áreas centrais do território cuja irregularidade do traçado é ditada pelo desenvolvimento das áreas de extração mineral; e a ocupação dos territórios da Amazônia e das fronteiras criadas pelas novas demarcações resultantes dos Tratados de Madrid e Santo Ildefonso dentro de um projeto real de ocupação sistemática do território que se utilizará do repertório de formas ortogonais, radiais, etc recorrente nas diversas iniciativas de povoamento sistemático ocorridas na Europa no mesmo período.
- Ao contrário do damero hispano-americano, as ruas no Brasil têm como ponto de fuga e enquadramento final uma construção. A instalação de ordens conventuais fora dos primeiros núcleos de habitações nas vilas fundadas, leva a uma direcionalidade do crescimento urbano na direção destes complexos. As arquiteturas singulares desempenham, portanto, um papel fundamental na definição do traçado urbano das cidades da América Portuguesa.



VILA BRASILEIRA
Nestor Goulart Reis. Imagens de vilas e cidades do Brasil colonial. São Paulo: Edusp , Co-Editoração: Imprensa Oficial, 2004. (Coleção Uspiana - Brasil 500 Anos. Prêmio Jabuti 2002).
“O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho. A mesma, em suma, que se tinha acostumado a alcançar na Índia com as especiarias e os metais preciosos. Os lucros que proporcionou de início, o esforço de plantar a cana e fabricar o açúcar para mercados europeus, compensavam abundantemente esse esforço efetuado, de resto, com as mãos e os pés dos negros mas era preciso que fosse muito simplificado, restringindo-se ao estrito necessário às diferentes operações. Não foi, por conseguinte, uma civilização tipicamente agrícola o que instauraram os portugueses no Brasil com a lavoura açucareira. Não o foi, em primeiro lugar, porque a tanto não conduzia o gênio aventureiro que os trouxe à América; em seguida, por causa da escassez da população do reino, que permitisse emigração em larga escala de trabalhadores rurais, e finalmente pela circunstância de a atividade agrícola não ocupar então, em Portugal, posição de primeira grandeza”. 171
- A conquista do território brasileiro, efetivada a partir das primeiras experiências de colonização levadas a efeito pelos portugueses no Brasil indica a cidade da conquista do território brasileiro muito mais como representação da empresa comercial da Companhia das Índias Ocidentais do que sendo propriamente uma verdadeira cidade. As primeiras áreas de ocupação e conquista do território brasileiro circunscreveram-se no nordeste brasileiro como áreas de exploração açucareira e essa era a chave do interesse português no Brasil que se constituiu a partir daquela empresa ou daquele tipo de aproximação do novo mundo. Oficialmente, o povoamento do Brasil nunca foi encarado como um empreendimento comercial. As cidades implantadas pelos portugueses, os núcleos urbanos e as vilas que lá existiram foram fruto de um processo não racional de implantação, essa afirmação, da não racionalidade da empresa portuguesa temos direcionado ao sentido de não serem desenvolvidas cidades a partir de planificações determinadas como as que foram pautadas pela América de colonização espanhola que tinham nas leis de índias a referencia de constituição das usas cidades e das relações comerciais e empresariais mesmas."

Arquitetura civil brasileira no século XVII (2): Imagens de Frans Post, Nordeste brasileiro, primeira metade do século XVII.






Arquitetura civil brasileira no século XVII



Frans Post, Casa de Fazenda

Para refletir

A série de Davis publicada abaixo permite colocar em prática o método iconológico de Panofsky. A pergunta que se deve responder é: por que temos tão diferentes representações de um mesmo tema ? Porque o Davi de Michelangelo não tem o ar afetado e efeminado do David de Donatello ?

Davi de Caravaggio

Davi de Bernini

Davi de Donatello


Davi de Michelangelo


Resumindo o método de Panofsky

PANOFSKY, Iconografia e iconologia: uma introdução ao estudo da arte da Renascença.



Iconografia: estudo do tema. O que é isto ?
Iconologia: estudo do significado. O que isto significa ?
Obra de arte: resultado do ambiente histórico

Três níveis de abordagem da obra de arte:
1. Descrição pré-iconográfica (descrição): identificar um homem, um animal, uma expressão alegre ou zangada. Descrição do que é representado. Trata-se de uma identificação primária/formal do tema. Exige que se conhece a história dos estilos, porque ele ensina como certos objetos foram representados sob diferentes condições históricas. Questão: o que está representado ?

2. Descrição iconográfica (identificação): trata do tema ou mensagem. Estuda o significado. Não se preocupa com a forma. Uma figura masculina com uma faca na mão representa São Bartolomeu. Objeto do estudioso: o quadro, a obra de arte. É um estudo descritivo. Significado iconográfico depende do conhecimento de fontes literárias. Exige que se conheça a história dos tipos, isto é como temas ou conceitos específicos foram representados ao longo do tempo. Questão: como se está representado ?

3. Interpretação iconológica (compreensão): trata da personalidade de uma época. Pela análise iconográfica, é possível entender o “clima mental” de uma época. Objeto do estudioso: o clima mental de uma civilização, do qual a obra de arte é um sintoma. Objetivo: resgatar os valores simbólicos de uma época. É um estudo de interpretação e síntese. Exige que o estudioso conheça o contexto histórico: politica, filosofia, religião, etc. Questão: por que se representa assim ?

ICONOGRAFIA: trata do tema ou mensagem das obras de arte, em contraposição à sua forma.

Sobre o método de Panofsky

Fonte: http://pt.shvoong.com/humanities/art-history/1631361-iconografia-iconologia-arte-atrav%C3%A9s-seu/

Em 1939, o livro Estudos em Iconologia, Panofsky detalha suas idéias sobre os três níveis da compreensão da história da arte:
• Primário, aparente ou natural: o nível mais básico de entendimento, esta camada consiste na percepção da obra em sua forma pura. Tomando-se, por exemplo, uma pintura da Última Ceia. Se nós pararmos no primeiro nível, o quadro poderia ser percebido somente como uma pintura de treze homens sentados à mesa. Este primeiro nível é o mais básico para o entendimento da obra, despojado de qualquer conhecimento ou contexto cultural.
• Secundário ou convencional: Este nível avança um degrau e traz a equação cultural e conhecimento iconográfico. Por exemplo, um observador do Ocidente entenderia que a pintura dos treze homens sentados à mesa representaria a Última Ceia. Similarmente, vendo a representação de um homem com auréola com um leão poderia ser interpretado como o retrato de São Jerônimo.
• Significado Intrínseco ou conteúdo (Iconologia): este nível leva em conta a história pessoal, técnica e cultural para entender uma obra. Parece que a arte não é um incidente isolado, mas um produto de um ambiente histórico. Trabalhando com estas camadas, o historiador de arte coloca-se questões como "por que São Jerônimo foi um santo importante para o patrono desta obra?" Essentialmente, esta última camada é uma síntese; é o historiador da arte se perguntando: "o que isto significa"?
Para Panofsky, era importante considerar os três estratos como ele examinou a arte renascentista. Irving Lavin diz que "era esta insistência sobre o significado e sua busca - especialmente nos locais onde ninguém suspeitava que havia - que levou Panofsky a entender a arte, não como os historiadores haviam feito até então, mas como um empreendimento intelectual no mesmo nível que as tradicionais artes liberais".

Para Panofsky a História da Arte é uma ciência em que se definem três momentos inseparáveis do ato interpretivo das obras em sua globalidade: a leitura no sentido fenomênico da imagem; a interpretação de seu significado iconográfico; e a penetração de seu conteúdo essencial como expressão de valores. A arte medieval e do Renascimento (que estudou profundamente), estão definidos em seu livro Renascimentos e Renascimentos na Arte Ocidental.

Partindo da premissa de que a arte sempre trás consigo um sentido, Erwin Panofsky expõe em seu livro Significados das artes visuais<1>, a análise dos objetos imagéticos através de seu tema. Ao apresentar a arte por meio de seus aspectos temáticos, este teórico formula os conceitos iconografia e iconologia, orientando seu estudo a uma percepção não apenas simbólico cultural, mas também histórica. Para melhor compreensão destes conceitos, Panofsky mostra uma metodologia fundamentada em três níveis de análises, que, por sua vez, são baseadas na descrição, na identificação e na compreensão da obra de arte.
Segundo este estudioso, a análise temática deve ser iniciada através da descrição visual do objeto artístico. Esta descrição tem como finalidade identificar as formas puras, ou seja, os elementos, as cores, os formatos, assim como, as expressões e as variações psicológicas inerentes às imagens. Nomeado de pré-iconografia, este primeiro nível de observação, no qual o olhar minucioso é fundamental, é uma das bases para a boa compreensão simbólica contextual da obra de arte.
O segundo nível de análise, proposto por Panofsky, é baseado na identificação das imagens, estórias e alegorias que permeiam os costumes e as tradições de determinadas épocas e civilizações. Sendo apreendido por iconografia, este exame permite reconhecer a personificação de conceitos e símbolos em imagens. Segundo Panofsky, esta parte da análise se diferencia da primeira por causa de dois motivos: “em primeiro lugar por ser inteligível em vez de sensível e, em segundo, por ter sido conscientemente conferido a ação prática pela qual é veiculada<2>”.
Por fim, há o terceiro nível de observação, no qual a obra de arte é compreendida como documento histórico. Conhecida como iconologia, esta análise é feita através do condicionamento da arte a época e a sociedade na qual ela foi concebida. É a interpretação de imagens através dos princípios que norteiam a escolha, a produção e a apresentação das estórias e das alegorias presentes na obra de arte.
Portanto, Panofsky expõe os objetos artísticos como documentos, que juntamente a outras fontes se tornam passíveis de análise. Fazendo da arte uma importante ferramenta para compreensão de momentos e conjunturas históricas pelo historiador.

domingo, 23 de agosto de 2009

O olhar cheio de energia e fúria de Davi de Michelangelo


Vejam a intensidade do olhar do Davi de Michelangelo. Como outras obras, ele revela grande energia interior, uma fúria contida no corpo, prestes a explodir. É esta dimensão espiritual que nos permite afirmar que o Davi de Michelangelo é uma representação mental do combate.

Marcel Duchamp, um debochado!


O mictório de Marcel Duchamp: contestando o caráter sublime e etéreo da arte, a ditadura da crítica especializada, as pretensões à verdade do discurso sobre a Arte.

Isso é arte ?

Vejam matéria do www.digestivocultural.com/colunistas/imprimir.asp?codigo=1709, sob o título: Isso é arte ?

“Pós-tudo, ex-tudo, nada”
Augusto de Campos

Uma artista inglesa expôs e vendeu a uma galeria, por 350 mil dólares, a cama onde ela passou a noite trepando e onde havia várias camisinhas usadas. Isso é arte?O artista belga Win Delvoye enviou para a Bienal de Veneza uma lata contendo seu cocô. A obra foi denominada “Merda do artista”. No ano seguinte, ele industrializou o processo, criando, com um projeto de 200 mil dólares, uma engenhoca que fabrica merda, vendendo cada latinha dessa merda por 1.000 dólares. Em 2002 uma dessas latinhas foi comprada pela Tate Galery por quase um milhão de libras. Isso é cocô, quer dizer, isso é arte? Vito Aconti, ex-marido de Marina Abramovic montou numa galeria uma instalação chamada Seedbed, que consistia em que ele ficasse sobre um estrado se masturbando durante oito horas por dia, durante duas semanas, dizendo em voz alta todas as fantasias que os assistentes lhe despertavam. Arte? Haggens descobriu um método de plastificar os cadáveres e realizou algumas exposições com esses seres mortos que passaram por esse processo (pós-moderno) de mumificação. Aí havia gente com o ventre aberto, fetos, animais pela metade, enfim, aquilo que se chama de “museu de horrores”. Na Feira Internacional de Arte Contemporânea, em Paris, em 1975, a performance de Herman Nitsch, patrocinada pela galeria Rodolf Stadler, consistia numa série de missas negras. Resultado: no dia seguinte ainda havia 2 cm de sangue sobre os 250 metros da galeria.Marina Abramovic, em 1972, apresentou a obra Ritmo 0, que consistiu em ficar parada junto a uma mesa sobre a qual havia alguns objetos: uma arma, um machado, mel, tinta, perfume, baton, azeite, etc. Ela ficava ali exposta e à disposição dos expectadores que tinham num cartaz orientação de como atuar naquela obra de arte: “há 72 objetos sobre a mesa que podem ser usados em mim conforme desejado. Eu sou o objeto”. Como noticiou a imprensa, “seis horas depois suas roupas haviam sido rasgadas e a arma tinha sido apontada para sua cabeça”. Assim ela apenas radicalizou outra performance quando, certa feita, passou 12 dias na Sean Kelly Galery totalmente exposta à curiosidade do público enquanto passantes, bêbados, operários curiosos viam todas as suas intimidades. Esses são apenas alguns dos exemplos das dezenas de obras de “arte contemporânea” que têm seu estatuto de valor estético questionado por Affonso Romano de Sant'Anna no seu ousado livro Desconstruir Duchamp: arte na hora da revisão (editora Vieira & Lent, 2003). A partir da grande receptividade de um artigo publicado no jornal O Globo, no ano de 2001, denominado “Arte – um equívoco alarmante”, Sant'Anna acabou escrevendo mais 50 artigos. Eles são saborosos de se ler, instigantes na suas argumentações e ousados em suas proposições sobre os rumos da arte atual. O livro dá o diagnóstico: a arte meteu-se num grande imbróglio. Os culpados: Duchamp e uma legião de curadores, leiloeiros, marchands e galeristas que decidem o que é arte e o que tem valor enquanto tal. Pouco resta aos críticos, ensaístas e historiadores da arte, condenados ao silêncio e ao temor da contestação à ordem artística vigente.E ao artista resta alguma decisão? Quantos artistas não estão traumatizados, paralisados, congelados de medo diante do desejo de pintar figuras, como se os talibãs os fossem pegar em flagrante?, questiona Sant'Anna. Mas, diz o autor, é preciso começar a contestar os próprios contestadores que, de um momento para outro, se petrificaram, se academizaram, se midiatizaram. Segundo seu diagnóstico, Duchamp deu um xeque-mate na arte há quase 100 anos e, desde então, ela ficou paralisada, prisioneira de sua própria revolução. E é Duchamp, pai da arte conceitual, e seus correligionários, os alvos principais dos ataques de Sant'Anna.Afinal, não foi o próprio abusado Duchamp que dizia que seus seguidores haviam se tornaram vítimas de sua própria artimanha? “Joguei o urinol na cara deles como desafio e agora eles o admiram como um objeto de arte por sua beleza estética”.“Embora o urinol tivesse desaparecido daquela exposição em Nova York, para onde Duchamp o enviou, ele começou a produzir cópias de seu urinol, a assiná-las para diversos museus para inseri-las no sistema artístico que condenara. Só em 1964 autenticou oito outras peças semelhantes, caindo na repetição que tantas vezes condenou. O anti-artista virou artista, a anti-arte, arte. O feitiço virou contra o feiticeiro. O contestador sucumbiu à cultura do mercado. E, no final da década de 90, a Tate Gallery de Londres comprou uma das cópias por quase um milhão de libras”, diz Sant ´Anna. Pensar Duchamp através de suas próprias problematizações é desconstruir o desconstrutor. O livro se encarrega dessa tarefa blasfema com muita propriedade.O urinol nos revelou que todos podemos ser artistas, basta termos a atitude de escolher um objeto qualquer e denominá-lo arte. O trabalho braçal teve dessa forma seus dias contados (técnica para quê?). O que interessa é a receita, não o bolo. Interessa o conceito, não o fazer. Dessa forma tudo pode ser arte... se assim o quisermos. Se tudo é arte, nada é arte. Se uma gosma espermática ou um bule velho de café podem ser arte, qualquer leigo, sem o mínimo talento para a arte, poderia se perguntar: por que não eu também? Calma lá, tudo bem que democratizamos o “talento”, mas nem todos podem ser chamados de “artista”. Apenas os que o sistema artístico, composto por leiloeiros, curadores, galeristas e divulgadores (não críticos de arte), amparados numa estratégia de marketing que renderá alguns bons dólares, decidir chamar de artista será artista. Estes produzirão o que veremos nas Bienais distribuídas pelo mundo afora. Interrogações: quem nunca sentiu uma enorme insatisfação, um tremendo vazio, diante de uma coleção de obras “contemporâneas” expostas nas mais famosas galerias e bienais de arte do mundo? Quem nunca sentiu que ali não havia grande coisa para se apreciar ou que desse o que pensar? Quem é que após estar diante da presença arrebatadora da pintura de um Edward Munch, de um Francis Bacon (participantes anos atrás da Bienal de São Paulo na seção “histórica”), quem é que num momento desse não percorreu a Bienal com tremendo desgosto pelo que era ali exposto como o melhor da criação “contemporânea” (arte é contemporânea? Goya e Rembrandt são apenas o passado, ou o presente e o futuro também?). Não seria, pensamos, uma covardia expor esses gigantes diante das míseras expressões artísticas contemporâneas? Aliás, a curadora da próxima Bienal de São Paulo já se encarregou de desfazer essa humilhação, retirando o “núcleo histórico” da próxima exposição.Segundo Sant'Anna “a melhor homenagem que podemos fazer aos mestres contestadores de ontem é contestá-los hoje. Não para que a arte volte ao passado, mas para que ela se possibilite um futuro”.Por isso, “é preciso estar maduro para o passado”, vaticina Sant'Anna. Se não... que futuro teremos?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Atenção

Caros alunos

Teremos aula normalmente na semana que se inicia no dia 17/08.
Espero todos vocês na terça-feira, dia 18/08.
Um grande abraço a todos
Adriana Romeiro